sexta-feira, 2 de abril de 2010

Literatura casual (1)

A tenda dos caminhos sem volta

Os dois peregrinos já estavam há muito tempo andando pelo deserto, tanto tempo que nem se lembravam a última vez que haviam visto sinais de civilização. Eles estavam perdidos e sabiam disso, mas sabiam também que não podiam morrer ali no meio do nada e isso os impulsionava a continuarem andando.

Um dia eles fora pegos por uma tempestade de areia, e sem ter aonde se refugiar, cobriram-se com uma manta de seda. Foi quando em meio ao vendaval, Mudahyr, mais velho e experiente da dupla, viu em meio ao caos, uma tenda típica dos nômades que habitavam a região. A dupla seguiu em direção à tenda, na esperança de conseguirem um refúgio e um pouco de água.

Ao entrarem pela tenda, os dois perceberam que o interior era aparentemente muito maior do que imaginavam. O chão estava coberto pelos mais finos tapetes persas, e ao fundo haviam almofadas dispostas em um circulo, uma clara demonstração de que aquele local era reservado para refeições ou reuniões. Como não viram ninguém em lugar algum no ambiente, eles resolveram se sentar nessas almofadas, esperando que o anfitrião não se irritasse com a falta de decoro.

Os cansados andarilhos se acomodaram e esperaram pacientemente, após alguns instantes um vulto entrou pelo lado oeste da tenda. Eles se levantaram e viram que quem entrava era um homem, de baixa estatura, barba por fazer e uma barriga que denunciava uma queda pela glutonice. Com muito respeito, eles se dirigiram ao estranho, supondo que ele era o dono da tenda.

_ Com mil perdões meu senhor, estávamos no meio da tempestade quando vimos essa tenda armada e viemos em busca de abrigo. Me chamo Mudahyr e este é meu primo, Jahar, estamos há muito tempo no deserto e seremos seus humildes servos enquanto nos abrigar.

_ Ora Mudahyr, eu não preciso de servos, mas vocês podem ficar aqui. Aliás, eu estava esperando vocês dois.

_ O senhor já nos conhece? - perguntou o inocente Jahar.

_ Sim, eu conheço vocês, mas vocês ainda não me conhecem, me chamo Jebak Maut e esta é a tenda dos caminhos sem volta.

Os dois primos se olharam espantados, pois estavam face a face com a morte*. Apavorados, deram dois passos para trás, mas foram barrados pela saída da tenda, que apesar de se parecer com um tecido qualquer, tornara-se mais forte que um muro.

_Rapazes, vocês conhecem a lenda, uma vez no meu domínio, não há mais volta. A partir deste ponto, disse Maut apontando o lado oeste da tenda, vocês só poderão seguir em frente e enfrentar o destino de vocês.

Os dois tentaram fugir mais uma vez, mas continuaram sendo barrados pelo tecido da tenda. Eles realmente conheciam as antigas lendas e acabaram desistindo de fugir. Aquela era mesmo a tenda dos caminhos sem volta e enfrentar o desconhecido era a única maneira de tentar escapar das garras da morte.

*Maut, em árabe, significa morte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário